Extraordinário texto e um enorme murro no estômago!
Resignação é a mais feia palavra da língua portuguesa. É um esmagamento.
Nascemos para viver contra os aniquilamentos.
Vou contar uma história. Quando ela tinha 12 anos disseram-lhe: “a minha vida acabou quando tu nasceste”. A mãe morreu no parto e nunca lhe perdoaram. Aquelas palavras queimaram lá dentro, doeram mais que o descaso, as tareias de cinto, os pratos atirados para o chão quando o jantar que aprendeu sozinha a fazer não era suficiente
para apaziguar os demónios do álcool. “Puta, nunca devias ter nascido”. Passou aquela fome que não mata, mas tortura, dia após dia.
Os anos na instituição endureceram-lhe o olhar. Ninguém quer adoptar uma adolescente com o pai vivo. A escola ficou por acabar “não tinha cabeça para aquilo”. Fez limpezas, trabalhou num café. Engravidou, uma, outra e outra vez. Entre uma gravidez e outra desenharam-se-lhe na pele os hematomas. “Não prestas, não vales nada”. Ele…
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